segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Avaliação do texto dissertativo: uma análise a respeito da importância de o texto apresentar um diferencial, à luz de critérios da UFRGS.







MARCHEZAN, M da S. A avaliação do texto dissertativo: a importância de apresentar um diferencial. In: COPERSE. A Redação no Contexto do Vestibular 2005. Editora da UFRGS, Porto Alegre, 2005.





RESUMO: Com o objetivo principal de auxiliar o processo de avaliação dos textos de vestibular, baseado nos critérios de Estrutura e Conteúdo adotados pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, o artigo propõe uma análise acerca do quanto é importante o candidato expressar – na redação de vestibular - sua opinião de forma coesa, qualificada, original e criativa. Nesse sentido, são retomados quatro dos dez critérios de correção de Estrutura e Conteúdo da Planilha de Avaliação do Manual do Avaliador da UFRGS por serem os parâmetros diferenciadores de textos de nível excelente: Coesão Textual, Autonomia, Criticidade e Qualidade Estilística.

PALAVRAS-CHAVE: avaliação – texto - critérios

INTRODUÇÃO

Sabe-se que a escritura de um texto dissertativo não é tarefa fácil para o vestibulando, pois exige envolvimento pessoal, revelação de características do sujeito, requer opinião articulada e crítica que atenda ao tema proposto pela universidade. Essa dificuldade, porém, não pode se transformar em medos: de não agradar ao avaliador, de fugir do convencional, de não saber nada sobre o assunto proposto etc; ou em mitos, tais como: escrever é um dom de poucos, escrever não exige empenho, para escrever uma boa redação basta seguir as “dicas” do professor, a escrita nada tem a ver com práticas sociais etc.

O que vai determinar o nosso grau de familiaridade com a escrita é o modo como aprendemos a escrever, a importância que o texto escrito tem para nós e para nosso grupo social, a intensidade do convívio estabelecido com o texto escrito e a freqüência com que escrevemos. [...] Ninguém nasce escritor e o processo que transforma alguém em um artista da palavra ainda é um enigma.
(Garcez; Lucília H. do Carmo, 2002, p. 2)

Vale lembrar que o concurso vestibular não é um concurso literário, mas sim um momento onde há grande exigência da memória e do raciocínio, pois a agilidade mental é imprescindível para que o texto seja bem articulado e argumentado, coeso, original, criativo e adequado à proposta.

A redação tem o objetivo de avaliar sua competência discursiva em adequar o texto ao contexto da prova, não só em termos de correção gramatical, coesão, coerência, registro formal culto da linguagem, etc, mas também em termos de desenvolvimento do tema proposto, sem fugas ou tergiversações, com vocabulário adequado e com uma tese central sustentada por uma argumentação bem conectada.
(Halliday & Hasan, 1985)

Sendo assim, escrever é uma habilidade a ser desenvolvida (por meio de treino, isto é, escrituras constantes, leituras, conversas etc) ao longo da vida, e não um dom de poucos, já que ninguém nasce escritor. Entretanto, quem escreve deve tomar um tema adequado a suas forças; ponderar longamente o que seus ombros se recusam a carregar, o que agüentam. A quem domina o assunto escolhido não faltará eloqüência, nem lúcida ordenação.
Por outro lado, consciente do que é esse processo seletivo – o vestibular - o aluno tem o direito de saber de que maneira será avaliado, ou seja, quais critérios são ou serão adotados, pois, conhecendo esses itens a serem avaliados, o candidato sentir-se-á mais seguro para expressar sua opinião em língua materna.
Tendo como foco de análise o concurso vestibular - CV - da UFRGS, é fundamental esclarecer que cada redação a ser corrigida é apreciada pelo avaliador como um texto singular, produzido por alguém único: o autor. Sendo assim, cada texto é valorizado naquilo que tem de melhor. Para tal, há a Planilha de Avaliação do Manual do Avaliador, utilizada pelos professores que executam essa correção, a fim de reduzir ao máximo a possibilidade de interferências subjetivas – por parte dos corretores - nos textos avaliados.

Procuramos garantir que a avaliação feita na redação não (sublinha da autora) julgue a opinião, o posicionamento do vestibulando a respeito do tema proposto; o objetivo, aqui, não é verificar se o texto produzido expressa uma ideologia válida ou correta, mas aferir a maneira como o candidato aproveita os argumentos que mobiliza e como transita no plano contextual em que o tema se insere.
(Oliveira, A. de, 2003)

Com o objetivo de colaborar com o processo de avaliação dos textos de vestibular, passo a abordar alguns critérios, da modalidade analítica, no item Estrutura e Conteúdo, adotados pela UFRGS. Sendo que a escolha desses quatro parâmetros deu-se, exatamente, por serem eles os grandes diferenciadores de textos de nível excelente.

1. Coesão Textual

Trata-se aqui de verificar se o autor demonstra conhecimento dos recursos coesivos que a língua oferece, manejados de forma apropriada e qualificada, isto é, se essa habilidade fica evidenciada na tessitura por ele construída.
Está no nível excelente o texto que apresenta uso qualificado e preciso de nexos, de modalizadores, de correlação de tempos verbais, de referências anafóricas e de substituições lexicais. É necessária a articulação dos argumentos que subsidiam o ponto de vista assumido pelo autor, inserindo-o num contexto de referência compatível com as dimensões de sua abordagem. Receberão nota 3(três), neste item, as redações que demonstrem aplicação qualificada dos elementos de coesão textual.
(Manual do Avaliador, 2005, p.24)

Para explicitar ainda mais o item coesão, aponto elementos gramaticais e lexicais. Entre os primeiros estão: os pronomes anafóricos, os artigos, a elipse, as conjunções, a concordância nominal e verbal. Esses recursos estabelecem relação não só entre os elementos de uma frase, mas também entre frases, períodos e, até mesmo, entre parágrafos.
Já a coesão lexical, faz-se pela substituição, pela associação e também pela reiteração, sendo que esta ocorre pela repetição de algum item lexical ou por processo de nominalização.

2. Autonomia

Trata-se aqui de verificar se o encaminhamento que o autor deu ao texto evidencia singularidade e esforço pela autoria, isto é, se há habilidade e competência na articulação dos planos textual/contextual, que servem como referência na sua escritura.
Está no nível excelente a redação em que o candidato revela ponto de vista criativo e original, apresentando idéias incomuns e/ou incomumente relacionadas. Receberão nota 3 (três), neste item, apenas as redações que evidenciarem marca de autoria e versatilidade no tratamento do tema proposto.
(Ibidem, p.26)

Vale recordar que a redação do CV da UFRGS é apreciada pelos avaliadores, sendo ela um texto singular, de um autor também único, com idéias próprias e compatíveis com sua faixa etária, isto é, idade de um aluno egresso de Ensino Médio, cujo esforço de autoria é valorizado.

3. Criticidade

Trata-se aqui de verificar se o autor faz uma apreciação qualificada dos diferentes ângulos que a proposta temática suscitar, ou seja, se ele analisa de forma significativa as dimensões contextuais ao tema, relacionando-o apropriadamente.

Está no nível excelente o texto em que o autor desenvolve a redação de forma abrangente e crítica, considerando dimensões variadas do tema. A criticidade é percebida através do domínio de informações a respeito do tema, no que se refere tanto aos dados disponíveis quanto ao posicionamento recorrentes, associados com o mundo e/ou com outros textos. Receberão nota 3 (três), neste item, as redações em que o candidato privilegiar as perspectivas qualificadas e abrangentes do tema, aferindo-as com propriedade.
(Ibidem, p.28)

Neste item, portanto, destaca-se o texto que apresenta teses e argumentos que fogem do senso comum, passando ao leitor uma visão abrangente a respeito do tema, apresentando abordagens significativas e com uso adequado da linguagem.

4. Qualidade Estilística

Trata-se aqui de verificar se o autor faz uso de recursos expressivos, isto é, se trabalha adequadamente com frases complexas, concatenando-as com nexos diferenciados; apresenta vocabulário rico e variado; inova e utiliza recursos retóricos para valorizar sua abordagem e para provocar diferentes efeitos de sentido.

Está em nível excelente o texto em que o autor revele uma tessitura com vocabulário diferenciado e pertinente ao campo semântico em que se insere o tema tratado; revele domínio da sintaxe de frase complexa, conduzindo com competência a relação entre um argumento e outro, ligando-os por meio de nexos expressivos. Receberão nota 3 (três), neste item, as redações em que o autor apresentar inovações, que marquem um espaço próprio de dizer, bem como a superposição de vozes na argumentação que enriquecem o texto dissertativo. A instauração dessa dimensão do discurso passa por formas de manifestação específicas (modalizadores, operadores argumentativos, marcas de atribuição do discurso reportado). A utilização apropriada desses recursos instaura a competência comunicativa que o autor possui e ratifica a valorização do conjunto de habilidades inerentes à produção do texto escrito, empregando léxico de outro campo semântico de forma apropriada e original.
(Ibidem, p.29)

Neste critério ou autor cria impacto no leitor, pois expõe seu ponto de vista, demonstrando que domina a língua materna e que tem intimidade com ela. O texto com Qualidade Estilística é recheado com frases bem elaboradas, com vocabulário variado, criativo, genuíno e - por que não? - ousado.

Com o objetivo de exemplificar tais critérios, transcrevo, na íntegra, uma redação do Vestibular 2005 [1], que será analisada com base nos quatro critérios destacados:

Redação 1
O homem enquanto ser transgressor
01. O processo de transgressão no homem deve ser visto como 02. exercício de sua criatividade. É quando ele testa seus limites buscando 03. sua superação. Paralelamente, entretanto, tal busca deve respeitar os 04. limites da razão.
05. Todos os homens, como está evidenciado em sua história evolutiva, 06. tem a capacidade de criar, transgredir padrões pré-existentes. Trata-se

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[1] A proposta da prova de Redação do Vestibular 2005 foi: “A redação deverá ser dissertativa e versar sobre o tema: A TRANSGRESSÃO faz parte das ações humanas, ou ela pode ser entendida como violação às normas?”


07. de uma característica inerente à humanidade, que é reiteradamente 08. exercida ao longo da história, em busca de uma melhor adaptação ao 09. mundo em que vivemos ou mesmo de melhor adapta-lo às 10. características de nossa espécie. Percebemos assim a necessidade e 11. conseqüente carga positiva contida no ato de o homem transgredir.
12. Partindo dessa constatação cabe ao homem estabelecer limites a 13. suas transgressões, confrontá-las com a razão. É preciso respeitar as 14. normas vigentes na sociedade, sem com isso deixar de julgar o mérito 15. das mesmas e questioná-las quando encontramos falhas em sua 16. concepção. Ao não seguir essa linha o homem assume riscos 17. desnecessários como o de repetir situações que em um momento 18. anterior já foram testadas pela humanidade chegando a alguma 19. conclusão que levou a criar determinado limite. Tratou-se, portanto, de 20. um processo de aprendizado e nega-lo sem uma argumentação bem 21. fundamentada seria minimamente pretensioso.
22. É justo, então, que o homem, visto como um ser em constante 23. evolução, não perca seu espírito transgressor já que trata-se de um 24. fator decisivo para sua própria sobrevivência. Conjuntamente, ater-se 25. ao senso comum ou a experiências adquiridas, ainda que após um 26. exame mais atento de sua racionalidade, é saudável para o bom 27. andamento desse ser transgressor que é o homem, sem que com isso 28. esteja necessariamente se submetendo a limites e deixando de 29. evoluir.


Tentarei identificar alguns exemplos de coesão e aspectos que qualificam essa redação, tornando-a um texto com diferencial, capaz de chamar atenção do leitor.

Com relação ao critério Coesão Textual, verifica-se uso qualificado e preciso de nexos, modalizadores, correlação de tempos verbais, referências anafóricas, nominalização etc:

a) (1) “no homem” – linha 1- e “ele” – linha 2 - referindo-se ao homem;
b) (2) “seus limites” – linha 2 – referindo-se aos limites do homem;
c) (3) “sua superação” – linha 3 – referindo-se á superação do homem;
d) (4) “partindo dessa constatação” – linha 12 – referindo-se às idéias do parágrafo anterior;
e) (5) “suas transgressões” – linha 13 – referindo-se às transgressões do homem;
f) (6) “confrontá-las” – linha 13 – referindo-se às transgressões;
g) (7) “sem com isso” – linha 14 – referindo-se a “respeitar normas vigentes na sociedade” – linhas 13 e 14;
h) (8) “das mesmas” – linha 15 – referindo-se à palavra “normas” – linha 14;
i) (9) “Todos os homens” – linha 5 - e “humanidade” – linha 7 – em substituição à expressão da linha 4.
j) (10) “o homem, visto como um ser em constante evolução” – linhas 22 e 23 – e “ser transgressor” – linha 27 – referindo-se a homem;
k) (11) “no homem” – linha 1, “Todos os homens” – linha 5, “humanidade” – linhas 7 e 18 – aqui destaca-se o uso de expressões equivalentes;
l) (12) “entretanto” – linha 3;
m) (13) “portanto” – linha 19;
n) (14) “então” – linha 22;
o) (15) “estabelecer” – linha 12, “respeitar” - linha 13, “deixar de julgar” – linha 14, “questioná-las” – linha 15 – estabelecendo correlação de tempos verbais;
p) (16) “submetendo” – linha 28 e “deixando” – linha 28, estabelecendo também correlação de tempos verbais;
q) (17) “transgressão” – linha 1 – e “transgredir” – linha 11, evidenciando o processo de nominalização.

Com relação ao item Autonomia, podemos observar na redação analisada, um esforço bem sucedido do autor para expressar singularidade. Trata-se de um texto que não cairá no esquecimento de quem o lê. Além disso, destaca-se não só pelas idéias do autor, independentemente de seu ponto de vista, mas também pela forma criativa como foram expressas suas idéias.
Este é um texto que proporciona prazer durante sua leitura, pois se trata de uma produção original, um texto diferenciado. Vejamos alguns trechos para exemplificar o exposto:

· (1) “Trata-se de uma característica inerente à humanidade, que é reiteradamente exercida ao longo da história, em busca de uma melhor adaptação ao mundo em que vivemos ou mesmo de melhor adaptá-lo às características de nossa espécie.” - linha 6;
· (2) “Ao não seguir essa linha o homem assume riscos desnecessários como o de repetir situações que em um momento anterior já foram testadas pela humanidade chegando a alguma conclusão que levou a criar determinado limite.” – linha 16;
· (3) “É justo, então, que o homem, visto como um ser em constante evolução não perca seu espírito transgressor já que trata-se de um fator decisivo para sua própria sobrevivência.” – linha 22;
· (4) “Conjuntamente, ater-se ao senso comum ou a experiências adquiridas, ainda que após um exame mais atento de sua racionalidade, é saudável para o bom andamento desse ser transgressor que é o homem, sem que com isso esteja necessariamente se submetendo a limites e deixando de evoluir.” – linha 24.

Com relação ao item Criticidade, o autor destaca-se por:

a) discorrer sobre o tema de forma abrangente e crítica, transitando do homem como ser social, indivíduo, cidadão ao homem como espécie, apontando-lhe respectivas características:

· (1) “O processo de transgressão no homem deve ser visto como um exercício de sua criatividade” – linhas 1 e 2;
· (2) “Todos os homens, como está evidenciado na sua história evolutiva” – linha 5;
· (3) “característica de nossa espécie” – linha 10.

b) reconhecer que a transgressão é “uma característica inerente à humanidade” – linha 7, mas que “cabe ao homem estabelecer limites a suas transgressões” – linhas 12 e 13.

No que diz respeito à Qualidade Estilística, pode-se perceber que o vestibulando demonstra:

a) Vocabulário diversificado:

· (1) “buscando sua superação” – linhas 2 e 3;
· (2) “os limites da razão” – linhas 3 e 4;
· (3) “evidenciando” – linha 5;
· (4) “história evolutiva” – linha 5;
· (5) “padrões pré-existentes” – linha 6;
· (6) “característica inerente” – linha 7;
· (7) “reiteradamente” – linha 7;
· (8) “minimamente pretensioso” – linha 21;
· (9) “espírito transgressor” - linha 23;
· (10) “experiências adquiridas” – linhas 25;
· (11) “racionalidade” - linha 26;
· (12) “necessariamente” – linha 28.

b) domínio de frases complexas:

· (1) “Trata-se de característica inerente à humanidade, que é reiteradamente exercida ao longo da história” – linha 6;
· (2) “Percebemos assim a necessidade e conseqüente carga positiva contida no ato de o homem transgredir.” – linha 10;
· (3) “É preciso respeitar normas vigentes na sociedade, sem com isso deixar de julgar o mérito das mesmas” – linha 13;
· (4) “Conjuntamente, ater-se ao senso comum ou a experiências adquiridas, ainda que após um exame mais atento de sua racionalidade, é saudável para o bom andamento desse ser transgressor que é o homem” – linha 24.

A seguir, ainda com a finalidade de destacar a importância de a redação de vestibular ser um texto coeso, qualificado, original e criativo, transcrevo mais um exemplo de redação em nível excelente [1]. Sem análise detalhada, o texto que segue serve apenas para apreciação do leitor.

Redação 2
A obstinada vontade de mudar
01. Ser consciente não faz do homem um animal livre. Pelo
02. contrário, a responsabilidade do ato de pensar o confina em um
03. calabouço cuja única chave é a transgressão. É somente quando
04. questionam e violam o formalismo das idéias que os grupos hu-
05. manos diferenciam-se na perspectiva histórica.
06. Aristóteles dizia que a melhor das vidas era “aquela sem
07. nenhuma sabedoria”, já pensando no excesso de códigos e
08. convenções que permeiam até hoje nossas vidas. Sartre provo-
09. cou-nos: “ o homem está condenado a ser livre”. Então temos o
10. dilema: renunciar a todo o artificialismo do comportamento e viver
11. em uma liberdade como a dos irracionais, ou notarmos que nos-
12. sa condição superior pode embrutecer-nos e lançar a todos num
13. abismo.
14. Sim, desde que nascemos estamos angustiados no duto fa-
15. miliar que nos leva ao mundo – Transgredir é inato. E é parado-
16. xal: o cientista quebra protocolos burocráticos e descobre mais
17. cedo a solução de um problema, ao passo que o bandido estu-
18. pra lá uma moça e é preciso sorte para que não o linchem na ca-
19. déia. Veja: ambos são “transgressores”, mas o primeiro é o que
20. cria o novo, distingue-se no rebanho, decerto por altruísta; o
21. bandido traiu a confiança humana em nome de seu egoísmo, já
22. que o delito de estupro em si mesmo é um destruidor do conceito
23. de humanidade.
24. Daí as necessidades, os anseios por regras que sempre nos
25. cativaram. Sejam tabus de tribo ou cartas magnas estatais, eles
26. nos ajudam a olhar e reconhecer nosso semelhante como um
27. ente distinto que deve ser respeitado e não destruído. A lei e a
28. idéia de ordem existem para evitar que todos transgridam ao
29. mesmo tempo e aniquilem tudo o que se construiu.
30. É essa sistemática conservadora do pensamento, por fim,
31. que ao mesmo tempo nos impede de destruir e nos força a tres-

_________
[1] A proposta da prova de Redação do Vestibular 2005 foi: “A redação deverá ser dissertativa e versar sobre o tema: A TRANSGRESSÃO faz parte das ações humanas, ou ela pode ser entendida como violação às normas?”



32. passar o escudo dogmático. Só mudam o mundo aqueles que
33. ousam, os burocratas todos não fazem talvez uma página na his-
34. tória. Mas não basta mudar, é preciso mudar para melhor, senão
35. o agradável sabor das transgressões vai amargar no azoto da
36. inércia e da regressão.



Considerações Finais

Ante ao exposto, entende-se que o aluno não está fadado à sujeição, nem é prisioneiro de modelos preestabelecidos ou dispositivos institucionais. Conforme afirma Luft (1985, p.31): “O escritor deve ser senhor das palavras, não servo delas.” Sendo assim, o vestibulando deve sim mostrar rebeldia de pensamento, desviando-se de paradigmas e criando estilos, sendo, portanto, autor!

“Pode-se conhecer muitas regras, saber a língua mais culta, formalizada, e não ser um artista da língua, não conseguir ‘surpreender, iluminar, divertir, comover’, não passar do trivial. Ao contrário, é normal que a Gramática atrapalhe. Raros os grandes escritores familiarizados com regras de Gramática.”
(Luft, 1985, p.20)

Espera-se, com esta análise, que mais e mais professores de língua materna percebam o quanto é importante estimular as habilidades do aluno para que ele desenvolva seu estilo e pense algo inédito e ousando. Sendo que o esforço e a competência de ambos – professores e alunos – podem vir a quebrar normas no que diz respeito à escritura de redações de vestibular com a valorização de qualidades tais como: coesão, autonomia, criticidade e qualidade estilística; embasados em critérios de correção bem definidos, mas, acima de tudo, com abertura ao novo, ao diferente, ao ousado, ao criativo.



Referências Bibliográficas

LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade: por uma nova concepção da língua materna e seu ensino. Porto Alegre: L&PM, 1985.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Comissão Permanente de Seleção. Manual do Avaliador. Editora da UFRGS, Porto Alegre, 2005.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO FRANDE DO SUL. Comissão Permanente de Seleção. Redação Instrumental. Editora da UFRGS, Porto Alegre, 2003.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Comissão Permanente de Seleção. Redação Instrumental. Editora da UFRGS, Posto Alegre, 2004.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Prova do Concurso Vestibular 2005.

HALLIDAY, M.A.K.; HASAN, R. Language, context and text: aspects of language in a social perspective. Oxford: Oxford University Press. 1985.

COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

ARISTÓTELES, A Poética Clássica. São Paulo: Cultrix, [1997].

GARCEZ, Lucília Helena do Carmo. Técnica de Redação: o que é preciso saber para bem escrever. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

OLIVEIRA, A. de. “A Avaliação de Redação no CV/UFRGS”. In: COPERSE (org). Redação Instrumental. Editora da UFRGS, Porto alegre, 2003.

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